2018-12-17

10 pessoas a evitar no meio literário português

 
A questão não é criar polémica do vazio, mas mapear a perfídia - vá, vamos ser simplórios, dizer quem são os maus - para  que os bem intencionados prossigam pela arte sem interferências.

Por outro lado, uma boa polémica nunca fez mal a ninguém e  hoje faltam polemistas com cultura literária e sabedoria. Aflige-me esse medo do novo puritanismo e dos novos puritanos, do politicamente correcto. Dói? Que doa. A literatura não se fez nem faz para meninos, apesar de serem meninos os que se acotovelam em bicos de pés para serem vistos.
Literatura nem sequer é contemporaneidade, o tempo está-se marimbando para os que querem muito: curiosamente, os polemistas tendem a ficar na história. Ora cá estamos.

Mas não vamos dispersar. Serei objectivo quanto aos 10 nomes cuja perfídia e mediocridade (presentes aos saltinhos nos media e alguns com prestígio - vazio, como verão, e que provarei pontual e factualmente) não me oferecem quaisquer dúvidas, depois de quase 9 anos de observação cuidada a partir de dentro.

Passo então à lista, sem mais delongas. As explicações seguem-se à dita.

1.

(continua no Patreon. Ver explicação abaixo)

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PG-M 2018

2018-12-10

Começar do Zero no novo mundo

Aqui por baixo desapareceram 15 anos de blogue e vamos começar do Zero.

http://www.patreon.com/more3

Finalmente chegou o dia.
Dizem  que a cultura  devolve em triplo tudo o que nela é investido. Há  cerca de 20 anos que percorro as escolas.Tive de recusar algumas cujo custo de deslocação não podia suportar e isso ainda hoje me dói. O meu blogue faz 15 anos e lancei milhares de crónicas. Alguns de vocês gostaram. Há miúdos brilhantes e empenhados que me pedem ajuda, às vezes apenas tempo, e eu não posso porque tenho o meu tempo ocupado com uma profissão,  advogado, que nem sempre sinto como útil ou social. Aliás, ao
contrário da cultura, sinto muitas vezes que estou a perder tempo e a gastar recursos para nada ou até para as contas do Estado ficarem no negativo e não pagarem às pessoas (advogados oficiosos, magistrados, funcionários) o que é devido e no tempo que é devido. Quero reduzir o meu advogar ao que é útil social, cultural e desportivamente. E ainda tenho oslivros que vou lançando e as crónicas que suspendi para repensar tudo. Há investigações dispendiosas, como a que faço há 20 anos em Paris para o livro do meu bisavô escultor. Sou mau a fazer fortunas, mas gosto de pessoas. Há 3 meses saí das redes sociais para me olhar de fora, e percebi que não preciso de alimentar o ego ou sequer de ter uma plateia. Já pessoas que se querem contaminar umas às outras culturalmente, isso quero. Comoquero continuar a ter comigo aqueles que acreditam no mesmo e desafiá-los a serem patronos - porque isto acabará por inspirar outros. Das 5.000 pessoas
que me seguem entre facebook, Instagram e blogue, o objectivo é chegar aos 500 patronos até ao final de 2019 e aí lançar o projecto More 3, que apoiará a excelência dos jovens e a cruzará com a excelência social dos carenciados. Até lá, é para amealhar. Os Patronos podem cancelar, aumentar, diminuir a sua contribuição a qualquer momento e podem interagir dentro da comunidade, o que será muito bem-vindo (sugestões, pedidos, etc). Conto dar aos patronos muito mais do que até aqui. Além da crónica, fotos e da revisitação histórica dos melhores momentos, conto dar sugestões gastronómicas e de viagens e alguns vídeos e áudios,  alguns directos de eventos e grandes competições, live chat e coments, coisa que nunca ou raramente dei. Senti falta de muitos de vocês, mesmo os mais caladinhos, e a minha ideia é ter essa comunidade mais estreita comigo, por um euro que seja. Quero agradecer ao Unas a inspiração do projecto dele, o MalucoBeleza, e espero-vos, ainda hoje, no barco. Ou então reflictam e pensem que o vosso Euro pode gerar coisas boas. E se multiplica por 3. More 3. Por isso, querendo e acreditando, partilhem, pf. Obrigado!! 

Por favor, espreitem em

Pedro Guilherme-Moreira
10 de Dezembro de 2018

2018-07-01

Como nunca perder (e perder como nunca)


Vou só dizer isto e calo-me. A glória neste jogo que mobiliza malucos e lúcidos, burros e espertos, pacíficos e violentos, voltará às quinas, sim, mais uma ou duas vezes neste século. Se gostassem mesmo de futebol, não escreviam nem falavam tanto do que não o é. Mas a verdadeira glória, deixem que vos diga, está e estará sempre nas ligas e nos desportos dos úlltimos. Ou na incrível entrevista de hoje do Souto Moura à E e em todo aquele deslumbramento literário. E, por falar em arquitectura, a verdadeira glória está num filmezinho que anda aí chamado Columbus, em que alguém questiona se o défice de atenção não estará no pai literato que se maça a ver o filho a jogar passado 5 minutos, e não no filho a jogar que (ainda) lê pouco. Sabem o que diz o mundo, a esta hora? Simplifica. Diz que o Cavani afastou o Ronaldo e mais nada. Como tinha dito Ronaldo 3 Espanha 3. Isto não é o meu país, ou pelo menos não é tão pouco nem tão simples.
Está bem, a glória facilita e anestesia algumas dores e deixa a memória e a nostalgia como drogas de resgate de alguns desesperos e desventuras. Mas o que resolve é a atenção. Saber escutar o mundo e o outro. Saber observar. Deste grandíssimo evento - como o são todos os mundiais - fica-me aquele estrondoso jogo com a Espanha e a superação desse atleta excepcional. Mas comovi-me mais com a festa do Panamá no golo de resposta aos 6 de Inglaterra. Agora, como todos, quero sarar. E, como a maioria, espero outras coisas. Bem maior do que esse Espanha Portugal foi a promoção desse outro Portugal, o que joga voleibol, à elite mundial. Lá também temos este Ronaldo da foto, que se chama Alexandre Ferreira. Ganha pouco dinheiro e joga longe de casa, na Coreia. Para o ano, pode até acontecer que Portugal perca todos os jogos na elite. Não serão menos do que os que hoje perderam em Sochi. A adormecer, aqui no quarto ao lado, tenho o meu herói máximo, um que fiz e que agora voa sozinho. Trabalha todos os dias muitas horas, ele e mais uma dúzia, para honrar as quinas num Europeu inédito que se joga a partir de 14 de Julho. Ainda estudam, todos estes heróis estudam, sem qualquer apoio.
Não ganham nada a representar o país, a não ser honra e ventura. Às vezes glória. A tal que voltará às quinas mais uma ou duas vezes neste século e não é grave que não tenha sido hoje. E todos vocês terão o vosso verão e as vossas glórias mais íntimas, uma doença superada, uma notícia boa. Isso sim, é importante. Isso e este abraço que vos deixo. Ser português é maravilhoso.


@pedroguilhermemoreira 2018

Adenda: recordo também o texto com que abri a reflexão sobre estas quase três semanas de Mundial da Rússia 2018, depois daquele estrondoso Espanha 3 Portugal 3:

New York Times. Para ler. Eu não sou o mais entendido dos adeptos e o meu desporto é o voleibol, mas ontem, à medida que as horas passavam, eu (e creio que todos) percebi que tinha acabado de assistir a um momento que ficará na eternidade, mesmo que Portugal não vá longe no Mundial da Rússia. E não é só por Cristiano, que conseguiu pôr um jornal argentino (argentino, cuidem bem) a escrever "a única dúvida é se ele é o melhor de sempre". A nível caseiro já não pode haver essa dúvida. Quanto ao jogo de ontem, eu tive a sorte de não deixar escapar aquele que, para mim, é o artigo perfeito sobre um momento de excepção, a prosa sublime e a atenção ao detalhe de Rory Smith para o New York Times, que escreve também um artigo para a eternidade. Ele diz que a FIFA, se não corresse o risco de perder muito dinheiro, devia fechar já o Mundial e eleger este Portugal 3 Espanha 3 como a final perfeita. E repartir o título pelos dois, digo eu. Uma final que ainda pode acontecer, e Portugal até pode jogar melhor do que hoje e ser campeão do mundo, mas duvido que o jogo e o espectáculo sejam melhores. E a minha cabecinha de português sofredor até estava satisfeita, mas lembrei os falhanços do Guedes, o quase-golo do Quaresma, com os espanhóis a fazerem o que nós devíamos ter feito ao Diego e ao Nacho, ou seja, a serem o camião à frente da baliza, e teríamos ganho. Mas o Rory Smith, que reparou nesse momento do Quaresma, foi à essência do jogo, qual Ortega y Gasset, que considerava o desporto a forma superior da existência humana (e eu envelheço a concordar, cada vez mais, com ele), mostrando também que fazem falta bons escritores e sensibilidades apuradas e multiculturais no desporto. Não esquecer a piada do The Guardian, que diz que Ronaldo devia doar o cérebro a um Museu da Fifa para se poder observar uma força mental do outro mundo. Mas Rory Smith foi ao detalhe de reparar na inteligência da economia e na arte do astro de 33 anos, o que menos correu na equipa portuguesa a seguir a Fonte. Fala dos adeptos espanhóis que ficaram a aplaudir Ronaldo já depois de a equipa de Espanha ter saído. Fala da beleza única do espectáculo entre equipas que podiam estar fragilizadas, e afinal mostraram brilho, Espanha pela saída de Lopetegui, Portugal pelo acordo fiscal do Ronaldo e pelo drama do Sporting e da usurpação da dignidade e excelência desportivas por um bando de arruaceiros. Rory Smith transforma um mero jogo de futebol naquilo que realmente foi: um momento superior de arte. Que mesmo os comentadores tacanhos sentiram, mas dificilmente nomearão como Rory. E, sem superlativos exagerados, pobres dos que perderam a noite de ontem levando-a à conta de voragem cultural do futebol. Ontem não. Ontem não foi isso. Foi Ortega y Gasset. E ninguém se pode lamentar. Nunca se lamenta o sublime e a beleza. A não ser quando somos egocêntricos feios. Mas isso nós, portugueses e espanhóis, apesar das aparências e dos buços, não somos. Foi uma lição ibérica para a eternidade. E a certeza do melhor de sempre. Kant, disse Adorno, postulou a imortalidade para fugir do desespero. Ortega y Gasset disse melhor ainda: 
"bien sé que a la hora presente me hallo solo entre mis contemporáneos para afirmar que la forma superior de la existencia humana es el deport"

@pedroguilhermemoreira 2018

2018-06-04

Era uma vez a Marta Massada: ícone do tempo absoluto

Começo com uma história da Marta Massada o combate que pretende contribuir para elevar a forma como como o nosso país encara a Alta Competição (que agora se chama Alto Rendimento) e a dupla ou tripla excelência (no desporto e no ensino e até na profissão, como a Marta). E é bom começar por este facto: temos leis piores do que no "tempo" da Marta (o tempo de selecção, porque este ainda é, e será, o tempo da Marta e dos que são como a Marta), quase nunca aplicadas nas universidades, e o país não apoia nem protege os seus melhores atletas e estudantes. O esforço é das federações, dos próprios atletas, dos pais, dos amigos, dos treinadores, dos colegas. Não de Portugal. Mas Portugal pode, se a política mais nobre (onde quer que ela esteja) quiser, mudar isso. Pode estudar modelos de sucesso, como o americano, e importá-los, para que, um dia, ser campeão europeu e mundial não sejam acasos de sorte, nem uma medalha olímpica seja a excepção à regra.

Escolhi a Marta porque ela congrega em si o anti-cliché: é hoje, na prática, uma das ortopedistas desportivas mais conceituadas. Termina conferências citando Mandela sobre a superação e sobre a forma como o desporto nos pode dar um mundo melhor. Fez o curso de medicina em seis anos sem uma média alta, precisamente porque queria o instrumento que o diploma é, não o prestígio académico vazio, mas chegou à excelência com muito trabalho e paixão. Defende que mais valia ter parado o curso e aproveitado oportunidades de se prolongar profissionalmente no voleibol, mas já voltou várias vezes a jogar e não impõe a si própria um prazo de validade. Na sua carreira, foi quase sempre vice-campeã, tendo perdido de forma dura várias finais: no entanto, não é como vice que a vemos, mas como o ícone de uma campeã absoluta. E isto é também um bom motivo de reflexão: o que é um (verdadeiro) campeão. Quer ter voleibol a correr nas veias até morrer. Tem uma carreira internacional a nível de clube e selecção como poucas. É, pois, também, o ícone asoluto da dupla excelência sem clichés: no desporto e na medicina. o ícone do tempo absoluto e não relativizado.

Estou a levantar histórias que relacionem a alta competição e a escola ou universidade. Duvido que conte alguma história que seja um exemplo positivo de como Portugal faz alguma coisa pelos seus atletas, até porque todos eles, habituados à ausência do país na sua excelência, não perguntam o que pode o país fazer por eles, apenas o que podem fazer pelo seu país. Como a Marta, que congrega em si todas as virtudes pessoais e desportivas: paixão, empenho trabalho, dupla e tripla excelência.

Era uma vez, então.

Era uma vez a Marta Massada, estudante de medicina e filha de outra glória do desporto nacional e da medicina, o andebolista Leandro Massada.
Marta está em estágio prolongado pela selecção nacional de voleibol, como ainda hoje acontece (por vezes, dois meses longe de casa e da faculdade e da vida normal, em concentração competitiva absoluta, como tem de ser entre os campeões).
Empenhada levar o curso de Medicina sem atrasos e em não deixar cadeiras para a época especial, pede ao seus seleccionador e treinador da altura uma licença especial para poder ausentar-se o estágio e ir fazer um exame à faculdade. 
Disciplina-se e estuda em pleno estágio, ou seja, o duplo sacrifício, mas que ela, disciplinada, assume.
Chega à faculdade e, ao entrar na sala, o professor, alto e em bom som, à frente de toda a gente, profere a sentença:

"A senhora tem de se decidir: ou o desporto ou a Medicina!"

E fecha-lhe a porta da sala de exame, deixando a Marta de fora e impedindo-a de fazer o exame.

Podemos pensar que é uma excepção no país que temos.
Não é. É a regra. E por isso simbólica.

A Marta é o nosso (primeiro) ícone.

(continua, com mais histórias - até à dupla ou tripla excelência)

PG-M 2018

2018-04-10

O princípio do Mundo em Sacavém e o Biblio-meretrício

Primeiro vem o meu prazer de forasteiro. Lisboetas casmurros para quem Sacavém é e será sempre subúrbio em contraste com sacavenenses orgulhosos e um engano: o gps (ou deveria armar-me em europeísta e passar a dizer galileu? ok, o galileu) enganou-se pela centésima vez e fez-me circular pela Sacavém velha. Eu já estava atrasado para a sessão matinal do 2º Encontro Nacional de Comunidades de Leitores (vou aqui omitir "associados a Bibliotecas Públicas", porque quero ir mais além nestas palavras). Na verdade, eu acabaria por conhecer a Sacavém velha a caminho do restaurante do historiador e investigador sacavenense Paulo Condesso, mas é curioso o olhar do Estrangeiro, e não é só desde Camus. Afinal, Sacavém é bonita. E para teimosos mostre-se a magnífica travessa da Oliveirinha, a primeira rua de Sacavém, diz-se.

Um encontro nacional de comunidades de leitores já era um sonho quando o Jorge Silva, Presidente da ímpar Comunidade de Leitores da Maia (onde decorreu, com retumbante sucesso, o 1º Encontro Nacional), me convidou para o 2º Encontro Nacional, apoiado pela Câmara de Loures, entre outras entidades. E eu já tinha decidido que o circuito de lançamentos do meu terceiro livro, saído em Setembro ("Saramaguíada", Poética, 2017) seria feito quase exclusivamente em comunidades de leitores e escolas. Tem sido assim, ainda sem excepções, que obviamente admito, aqui e ali, embora já esteja cansado do modelo - que considero esgotado - do lançamento em que se sentam três a uma mesa, publicador, apresentador e escritor, e falam do livro. Como escritores não nos contrataram para palhaços, mas, já que andamos por aí, como o Santana Lopes, porque não dar o corpo ao manifesto, descentrando-o do ego?

Disse em Sacavém e repito-o aqui: pode haver egos entre os leitores das comunidades, pode haver "personalidades" e pode haver "protagonistas". Pode haver. Mas eu é que não encontrei nenhum. Como raramente os encontro nas escolas. Já em festivais literários chovem egos. E são os mesmo trinta, sempre, com honrosas excepções. Como o meio literário português são umas vinte pessoas, nesses trinta dez convidados. Temos, neste momento, uma situação de monopólio no agenciamento, fruto do abnegado trabalho dos criadores da Booktailors, o que, como amantes de livros que são - e eu tenho muita consideração por alguns deles e, se tenho menos por outros, admiro a cultura literária de muitos - , que portanto estão a colher o frutos do seu trabalho, mas o tempo do monopólio dá-lhes uma especial responsabilidade de montar festivais com uma quota de não agenciados, responsabilidade social e literária essa que nem sempre é cumprida.

O que, para mim, é menos compreensível, é que a maior parte das publicadoras e dos escritores andem alheados da importância dos leitores e das comunidades de leitores. A maioria de nós valoriza as bibliotecas públicas (não sei é se pratica actos em função dessa valorização), mas não valoriza, como devia, os leitores e as comunidades de leitores, a quem devemos, praticamente, tudo.

Esse sábado, 24 de Março, entre o magnífico Museu de Cerâmica de Sacavém (de manhã) e a Biblioteca Municipal de Sacavém (pela tarde), as conversas foram materiais, tiveram substância. Não houve dispersão. Houve propostas concretas e comunicação, ainda que pudessem, e devessem, estar representadas muitas mais comunidades e bibliotecas (é preciso muita humildade e trabalho na comunicação prévia, é preciso ir ter com as pessoas de todas as formas e convencê-las; a ideia de que só vai quem quer e de que já se mandou mails para todo o lado, se fez cartazes e banners, etc, etc, e "agora seja o que deus quiser" é, a meu ver, errada; temos de estar perto dos leitores, temos de lhes dar atenção e de os mimar, temos de pensar mais neles e menos em nós, escritores, críticos e publicadoras) mas isso torna 
manifesta a falta de uma rede efectiva de comunidades de leitores e bibliotecas (com expressão no espaço
virtual ou rede global) onde seja fácil trocar experiências entre actuais e futuros leitores, entre leitores e escritores, entre leitores e publicadoras (porque não? esteve por lá a Porto Editora), haver transferência de títulos entre bibliotecas e fazer rolar a bola de neve da leitura, que não, não está a regredir, embora todos andemos a tentar perceber o modelo que se irá impor neste século XXI - podendo fazer reflexões e preparar terreno para o Livro no Século XXII. E tudo isto pode e deve ter apoio do Orçamento, assim haja propostas para o Participativo.

Deixo para o fim a comoção.
É violento, para mim, o contacto com esas entidades superiores que são os leitores que só pensam nos livros.
É verdade que qualquer bom escritor tem de ser um bom leitor, mas dificilmente o escritor deixa de ler por oficina e com a pureza e a liberdade de um leitor que não está preocupado em criar. Pode tentar, mas ficará para sempre poluído do momento em que leu por oficina pela primeira vez. Ora, as pessoas que cultivam os livros pelos livros, com aquele espanto e maravilhamento primordial, devem ser preservadas como espécie em extinção. E temos de arranjar um modelo para estes leitores em extinção frutificarem, terem crias, contaminarem outros.

Obrigado Jorge, Carlos, Maria, Rita, Anabela, Vera, Paulo, David, Sandra, Maria Helena, Paula, Luísa, companheiros João Tordo e Isabel (e marido), e muitos mais. Obrigado a todos.

Eu, que respeito a elegância e a classe, mas fui nado e criado no Porto, onde vivo, gostaria de cultivar aqui essa complexa deselegância tripeira, essa forma de ser broeiro, que reclama o direito ao calão e à ausência de filtros, dizendo sempre, e digo-o comovido e penhorado, a escolas e a comunidades de leitores, que sou um verdadeiro prostituto literário. 


Por isso, usem-me.
E usem os escritores todos que conseguirem.
Frutifiquem.

Prometo que aqui darei notícia, pelos anos fora, dessa "dura" vida de biblio-meretrício.

@pguilhermemoreira 2018

2018-03-05

Federer


Publicado a 16-02-2018:
Aí está. Federer voltará a ser número 1 na próxima segunda-feira. É algo de notável, e não é por ele fazer 37 anos em 2018. É pela descrença e pela superação. Há dois anos, Federer já estava sentado no Olimpo e os especialistas toleravam o atrevimento do velhote entre courts e lesões. Tinha secado os majors, era só uma questão de tempo até ser apenas história. Exaltavam quase todos os dias o ensaio de David Foster Wallace. Ou seja, Federer era literatura, era mito, era o melhor de sempre, não era preciso mais nada. O ano passado ganhou a Austrália e Wimbledon. Este ano voltou a ganhar a Austrália e chorou. Ser o melhor de sempre e quererem que saias e encostes as botas depressinha também deve ser duro. E agora aí está, o melhor de sempre de volta ao número 1. E o brilhante e imperdível ensaio que David Foster Wallace (DFW) publicou em 2006 no New York Times, dois anos antes de se enforcar, sob o título "Roger Federer as religious experience" está aí para ser lido, em tradução do Vasco Teles de Menezes - ensaio com título alterado para "Federer: carne e não só" -, entre as páginas 409 e 435 do volume de ensaios de DFW que a Quetzal publicou em 2013 sob o título "uma coisa supostamente divertida que nunca mais vou fazer". E Federer é, simultaneamente, o melhor tenista e um dos melhores desportistas de sempre, um deus no Olimpo E o número 1. E diz que só pára quando a mulher lhe disser que chega.

@pguilhermemoreira 2018