2015-10-16

Os anjos da Asprela em verso

Os anjos que eu conheço fumam,
almoçam em tascas, bebem vinho, ouvem música alto e
cheiram, têm sexo, às vezes connosco, e até são maus
em partes desimportantes do dia
Mas quando toca a estarem presentes
porque se te vai a vida - estão
Nos escassos momentos em que vivem as próprias
existências, podem ser copy-paste,
mirrar para dentro de ecrãs e estar desatentos,
dizer e tipo, até fumar umas ganzas
e beber umas minis,
mas quando toca a estarem presentes
porque se te vai a vida - não só estão
como transcendem o que lhes pedes
É até comum que, quando se lhes pergunta se viram
uma ou outra coisa ou se sabem isto e aquilo,
possam ser ignorantes como nós, mas tenho para mim
que tal acontece porque nunca estão em si,
mas em ti e nos outros como tu, porque quando
se nos vai a vida não há tempo, ou, se há,
as horas tomam desoras e é preciso
quem ande lá por cima
 
É preciso quem voe

Hoje sabes muito bem. Sabes que são mais importantes
os que te seguram a mão e ouvem - e, verdade seja dita,
se os anjos da asprela fossem, além de bons, cultos,
- ou os que o são - e tu os conhecesses,

morrerias de enlevo,

e não do que eras para ter morrido, e eles,
com o seu sopro, cuidaram que se extinguisse,
como a chama das velas que agora espalhas pela casa
em nome deles. Sabes que eu não gosto
nada disso.

Já bastam anjos que fumam.

PG-M 2012

2015-10-03

poema de uma só linha sobre um dos aspectos do silêncio



hoje é dia de dar as palavras às vezes em que as perdi


veio daqui: "escrevo muito pouco olhando o passado ou a experiência. Escrevo muito projectando-me no que leio nos olhos ou na postura dos outros. E às vezes manipulo o meu próprio sentimento: hoje é dia dar as palavras às vezes em que as perdi"
(música de Arvo Pärt - Spiegel im spiegel;
 letra de mim)

 

 PG-M 2013